quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Introdução


O Brasil está envelhecendo, principalmente, em consciência e participação, pois a cada dia aumenta o número de cidadãos preocupados com a saúde, crescimento cultural e reivindicando mais espaço na sociedade. Por outro lado, as transformações advindas do avanço tecnológico trouxeram uma expectativa de vida superior àquela esperada por muitos. Deste modo, cada vez mais os idosos passam a somar uma porcentagem ainda maior e representa uma parcela significativa da população e necessitam manter o seu espaço.
Salienta-se que este processo de envelhecimento se inscreve na temporalidade do indivíduo, sendo composto de perdas e ganhos, não se tratando de apenas um ciclo de vida mas sim, a construção de um processo contínuo. Contudo, a população assiste estas transformações e as autoridades não se preocupam com a defesa e o bem estar daquelas pessoas com mais idade.
Registra-se que a sabedoria possui o seu valor, mas muitos não sabem aproveitar esta capacidade e experiência vinda dos idosos. Surge daí a necessidade de reflexão e planejamento de ações que propiciem mais qualidade de vida para os idosos a fim de que sejam aproveitadas as suas potencialidades, experiências e sabedoria.
Analisando o direito comparado, constatamos que vivemos num País carente de ações sociais destinadas às pessoas com mais idade, bem como não se vislumbra qualquer espécie de preservação de sua história. Assim, o idoso é tratado como um problema e não como parte da sociedade, ao contrário de outros Países, como, por exemplo, a Espanha, onde existe esta valorização, ideal não cultivado no Brasil.
Deste modo, surgem legislações que buscam modificar a base da sociedade e, dentre estas, o Estatuto do Idoso se torna o resultado das mudanças históricas, políticas e sociais que o Brasil vem atravessando e exalta as conquistas almejadas e, por muitos, esquecidas. Contudo, deve se ter em mente que devemos possuir a capacidade de integrar esta camada da sociedade, ou seja, o idoso, no sistema social, não só valorizando conquistas de direitos e sim, elaborando mecanismos de controle que garantam a sua aplicação.

O que é ser idoso


O envelhecimento possui uma dimensão existencial e se modifica com a relação do homem e o tempo, com o mundo e sua própria história, revestindo-se não só de características biopsíquicas como também sociais e culturais. Groisman (1999, p. 48) afirma que "a velhice não é uma variável fixa, que podemos analisar antes e depois da modernização, mas uma realidade culturalmente construída, inclusive pelas disciplinas científicas que a tomaram como alvo". Acrescentando-se a esta ideia, convém salientar os posicionamentos de Neri e Cachioni (199, p. 121) quando mencionam:
O modo de envelhecer depende de como o curso de vida de cada pessoa, grupo etário e geração é estruturado pela influência constante e interativa de suas circunstâncias histórico-culturais, da incidência de diferentes patologias durante o processo de desenvolvimento e envelhecimento, de fatores genéticos e do ambiente ecológico.
Destarte, a classificação etária se torna complexa na medida em que são seus princípios que vão fixar o "status" e, por conseguinte, a prescrição de condutas, atitudes e sentimentos.
Portanto, o processo de envelhecimento ocorre de maneira diferente para cada pessoa pois depende de seu ritmo, época da vida, entre outros fatores, não se caracterizando um período só de perdas e limitações e sim, um estado de espírito decorrente da maneira como a sociedade e o próprio indivíduo concebem esta etapa da vida.
Morhy (1999, p. 26) considera que envelhecer pode ser conceituado como:
O processo de acumular experiências e enriquecer a vida por meios de conhecimento e habilidades físicas. Essa sabedoria adquirida proporciona o potencial para tomar decisões razoáveis e benéficas a respeito de nós mesmos. O grau de independência que dispomos na vida está diretamente relacionado à atividade maior ou menor em nosso corpo, mente e espírito [...] o envelhecimento pode ser definido como uma série de processos que ocorrem nos organismos vivos, e com o passar do tempo, leva a perda da adaptabilidade, a alteração funcional e, eventualmente a extinção.
Saad (1990, p. 4) entende que "a pessoa é considerada idosa perante a sociedade a partir do momento em que encerra as suas atividades econômicas" e, acrescenta também que "o indivíduo passa a ser visto como idoso quando começa a depender de terceiros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou tarefas rotineiras".
Completando as idéias acima, convém salientar o entendimento de Debert (1999, p. 20), que considera:
A velhice tem sido vista e tratada de modo diferente, de acordo com períodos históricos e com a estrutura social, cultural, econômica e política de cada povo, e que, os valores intrínsecos à representação que uma sociedade tem da velhice serão os norteadores responsáveis pelas ações que possibilitam ou não a proteção e inclusão social de seus idosos, como também a qualidade das relações estabelecidas com os seres idosos.
Deste modo, o "ser" idoso deve ser visto em um conceito mais transdisciplinar, e, neste tópico, Sá (2002, p. 1120) efetua a seguinte declaração:
O idoso é um ser de seu espaço e de seu tempo. É o resultado do seu processo de desenvolvimento, do seu curso de vida. É a expressão das relações e interdependências. Faz parte de uma consciência coletiva, a qual introjeta em seu pensar e em seu agir. Descobre suas próprias forças e possibilidades, estabelece a conexão com as forças dos demais, cria suas forças de organização e empenha-se em lutas mais amplas, transformando-as em força social e política.
Da mesma forma, sobre o envelhecimento holístico tem-se que:
Há portanto, nessa referida concepção, um conceito sistêmico de envelhecimento que subentende atividade e mudanças contínuas, que refletem a resposta criativa do organismo aos desafios ambientais. Por isso, como a condição de um indivíduo depende, costumeiramente, em alto grau, de seu ambiente natural e social, não existirá um nível absoluto de envelhecimento que seja independentemente desse meio. (VARGAS, 1983, p. 25)
Neri e Freire (2000, p. 13) esclarecem os termos utilizados para a fase de envelhecimento determinando que "velho", "idoso" e "terceira idade" refere-se a pessoas idosas com idade média de sessenta anos. A "velhice" seria a última fase e a existência humana, sendo que o "envelhecimento" está atrelado às mudanças físicas, psicológicas e sociais. Logo, "amadurecer" e "maturidade" significam a sucessão de alterações ocorridas no organismo e a obtenção de papéis sociais.
Bolsanello (1986, p. 762) enfatiza que a questão do envelhecimento está intimamente ligada com a coletividade, cujos conceitos estão relacionados com a experiência de vida e acrescenta que "o principal objetivo dos cuidados para com o idoso deve ser o de mantê-lo como parte integrante da “sociedade”.
Falar de envelhecimento é discorrer sobre a ideia de vida, uma vez que envelhecemos a partir de nosso nascimento, sendo este um curso natural da existência humana. Todos envelhecemos, com ou sem atividades, independentemente da idade. Contudo, não devemos esquecer da necessidade de qualidade de vida neste contexto.
A depressão é o problema psicológico mais comum no idoso. Embora seja comumente negligenciada no idoso, ela é, na realidade, bastante tratável. O importante seria a identificação das causas, pois é possível encontrar todos os tipos de depressão entre os idosos, desde a recorrência da depressão bipolar, depressão maior crônica, distúrbio distímico agravado pelas condições de vida, distúrbios de ajustamento a outros transtornos orgânicos, afetando dramaticamente a resposta do paciente idoso à reabilitação. A atividade física, quando regular e bem planejada, contribui para minimização do sofrimento psíquico do idoso deprimido, além de oferecer oportunidade de envolvimento psicossocial, elevação da autoestima, implementação das funções cognitivas, com saída do quadro depressivo e menores taxas de recaída.
Embora a expectativa de vida tenha aumentado, a duração da vida não. Isso porque os avanços nas pesquisas biomédicas e a introdução de aperfeiçoados tratamentos de saúde, permitiram que mais pessoas atingissem o fixado limite para a duração da vida, mas passando dos 85 anos, as pessoas morrem de velhice, apesar de muitos esforços, parece difícil prolongar por mais tempo nosso tempo de vida (OMS, 2006).
Nota-se que o desejo de controlar o envelhecimento é um anseio legitimo. A rejeição à terceira idade é um mecanismo de defesa natural do homem, mas sua aceitação como realidade junto a compreensão de que se pode ser plenamente feliz em qualquer idade é o melhor caminho para a longevidade.
O envelhecimento bem-sucedido é visto como uma competência adaptativa do individuo, ou seja, a capacidade generalizada para responder com flexibilidade os desafios resultantes do corpo, da mente e do ambiente. Esses desafios podem ser biológicos, mentais, auto conceituais, interpessoais ou socioeconômico. Essa competência adaptativa é multidimensional: é emocional, no sentido de estratégias e habilidades do individuo, para lidar com os fatores estressores; cognitiva, em relação à capacidade para a resolução de problemas; e comportamental, no sentido de desempenho e da competência social. (NERI, 2004)
Todo esse conjunto de fatores dará condições diferenciadas para cada individuo lidar com as perdas e as transformações decorrentes do envelhecimento, ou seja, para adaptar-se às transformações ocorridas em si e no meio em que está inserido. Considerando tais aspectos, pode-se concluir que o envelhecimento humano é um processo individual e diferenciado em relação às variáveis mentais, comportamentais e sociais.
O envelhecimento causa a diminuição da plasticidade comportamental, o que também diminui a capacidade de reagir e recuperar-se do efeito de eventos estressantes, no entanto, os mecanismos de autorregulação, mantêm-se intactos na velhice, ou seja, há uma continuação do funcionamento psicossocial e bem estar subjetivo, mesmo na presença de doenças e de outros fatores externos, que são considerados incompatíveis com a satisfação, por pessoas mais jovens.

Aspectos psicológicos

Além das alterações no corpo, o envelhecimento traz ao ser humano uma série de mudanças psicológicas.

Segundo estudos internacionais, 15% dos velhos necessitam de atendimento em saúde mental, e dentro desses 15%, 2% das pessoas com mais de 65 anos apresentam quadro de depressão, que muitas vezes não são percebidos pelos familiares e cuidadores, sendo encarados como características naturais do envelhecimento (NERI, 2004). Além de estarem sujeitos à depressão, os idosos são atingidos por estados de paranoias, hipocondria e outros transtornos. O bem estar psicológico na velhice está relacionado à auto estima, autoconceito e auto imagem, conceitos estes que desenvolvem parte de nossa personalidade, eles são essenciais para envelhecermos com saúde mental, pois na velhice é exigido uma auto aceitação das próprias limitações em varias situações da vida, e nesta aceitação e o gostar de si próprio surge a “paciência” com as limitações que aparecem no decorrer do envelhecimento, mas para que tudo isso seja possível é necessário saber de quem gostar e a quem compreender. Não se trata de um excesso de valorização da nossa própria pessoa, de arrogância ou egocentrismo, e sim gostar daquilo que somos, reconhecendo e valorizando nossas habilidades e também aceitando nossas limitações.

Depressão na terceira idade


Os idosos, por apresentarem características bastante peculiares das demais faixas etárias, requerem uma avaliação de saúde mais cuidadosa, a fim de identificar problemas subjacentes a queixa principal. Portanto faz-se necessário priorizar, no seu atendimento, a avaliação multidimensional, geriátrica abrangente ou avaliação global.

Muitas pessoas classificam a característica predominante da depressão com o humor deprimido, sentimentos de tristeza, desesperança, além da perda de interesse e prazer em atividades previamente prazerosas.
Segundo Miguel Filho e Almeida (2002) cinco dos modelos mais frequentemente citados são o modelo cognitivo (erros de processamentos de informações resultando em uma estimativa excessiva do estímulo negativo), o modelo do desamparo aprendido (a motivação diminuída e as percepções de incontrolabilidade dos eventos pela pessoa deprimida, onde o resultado pode ser um comportamento excessivamente passivo, a falta de motivação de a depressão do paciente), o modelo interpessoal (Frequentemente atribuída a experiências ou relacionamentos inter familiares adversos na infância.), modelo neurobiológico ( transtornos da transmissão das catecolaminas e transmissão serotoninérgica cerebral deprimida.) e o de recursos sociais (enfatiza os efeitos do ambiente sobre o indivíduo.).

Direito do idoso

1. Idoso tem direito à vida;

2. Idoso tem direito ao respeito;

3. Idoso tem direito ao atendimento de suas necessidades básicas;

4. Idoso tem direito à saúde;

5. Idoso tem direito à educação;

6. Idoso tem direito à moradia;

7. Idoso tem direito à justiça;

8. Idoso tem direito ao transporte;

9. Idoso tem direito ao lazer;

10. Idoso tem direito ao esporte.

O caso do Japão


O Japão é o país com maior quantidade de pessoas velhas do mundo. Nas terras orientais, o respeito aos idosos é um assunto cultural e inclusive eles têm um dia de comemoração: desde 1965, a terceira segunda do mês de setembro se comemora o “ Dia do Respeito aos Idosos” .
O sistema de saúde funciona através de um seguro universal que fornece serviços para toda a população e é financiado com impostos deduzidos de empregados e empregadores. Para cuidar aos idosos que moram sozinhos, o governo - junto com as empresas – criou medidores de consumo de água e gás que enviam automaticamente as suas leituras a um centro remoto de interpretação de dados.
Os cidadãos japoneses se importam com ajudar a que os idosos permaneçam independentes e continuem sendo produtivos. Do ponto de vista cultural mais ocidental, poderíamos dizer que é fácil reconhecer esse tipo de práticas em sociedades ancestrais; mas a sociedade nipônica é uma das mais industrializadas do mundo.
Na nossa sociedade o desinteresse pelos idosos, é muito mais do que o resultado da modernidade: trata-se de um costume cultural que aceitamos naturalmente.

Instituto Padre Venâncio


60 idosas vivem no Instituto Padre Venâncio, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Os caminhos que levaram essas mulheres até o abrigo são bem parecidos. Algumas vieram do interior para trabalhar no Recife como empregadas domésticas. Sem vínculos familiares, elas foram levadas pelos patrões para a instituição quando atingiram a terceira idade. Outras foram morar no local graças a conflitos de convivência com noras e genros. Há ainda aquelas cujos filhos não têm condições de lhes dar assistência por razões financeiras. "Nós acolhemos idosas com ou sem família, idosas de rua, vítimas de violência domésticas. Essas pessoas chegam aqui e nós tentamos resgatar a dignidade delas", afirma a diretora do abrigo, Maria do Rosário Costa, que há 13 anos está à frente da instituição.
O abrigo é vinculado à Arquidiocese de Olinda e Recife, que financia parte das despesas. O restante vem da taxa de 70% dos benefícios dos idosos que, por lei, podem ser destinados a esse tipo de instituição. No entanto, segundo Maria do Rosário, o espaço também recebe mulheres que não têm renda alguma. No local, 26 funcionários trabalham na limpeza, cozinha e assistência às senhoras. Elas também contam com o trabalho voluntário de um médico e uma nutricionista, além da presença de estudantes que realizam trabalhos de educação física e fisioterapia com as mulheres.
Darcy de Carvalho, de 63 anos, chegou ao abrigo amparada por um padre. A mulher não tem filhos, e sofria maus-tratos por parte do irmão, que lhe agredia fisicamente. "Ele fez muita miséria comigo", conta. Rosana Pereira, de 66, veio de João Pessoa para o Recife aos 18 anos, e passou 34 anos trabalhando numa casa onde cuidava de uma criança deficiente. "Quando eu cheguei, eu estranhei muito. 34 anos numa casa não são três dias", diz. Aos 72 anos, Dona Lindalva Rodrigues adora estar em contato com jovens, tanto que chegou a morar num pensionato de estudantes. Ela não tem filhos, e sua família são os sobrinhos, que desde que ela chegou no abrigo, há três meses, ainda não foram visitá-la. "Da família ainda não veio ninguém", fala.
A ausência da família não é um problema apenas de dona Lindalva. Grande parte dessas idosas recebe poucas visitas. "Elas têm muita história para contar, mas muitas vezes não têm quem as ouça", diz Maria do Rosário.

Cynthia Brito

Cynthia Brito
Na beleza de uma flor se esconde o brilho da simplicidade.

Tão natural!

Pedro Bial

Pedro Bial
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momentos e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem souber ver."

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